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A geopolítica no ártico - EGEO JR

Revisão : Dayane Rodrigues Professora responsável : Lussandra Martins Gianasi


Porque os países estão interessados no ártico ?


Em 1987, o motociclista japonês Shinji Kazama se tornou a primeira pessoa a atravessar o oceano Ártico congelado em uma motocicleta. Hoje em dia, se você quisesse refazer essa aventura isso não seria mais possível, visto que o gelo neste oceano diminuiu consideravelmente desde os anos 80. Isso é fruto das mudanças climáticas que estamos vivendo e que maioria dos pesquisadores afirma ser causada por ações humanas.



Essas mudanças não impactam somente no meio ambiente ártico, mas também despertam um interesse político e econômico na região. Com o aumento das temperaturas e consequente degelo fica mais fácil a exploração das riquezas naturais no local, além de ser possível criar novas rotas marítimas que passem pelo extremo norte e que funcionem o ano inteiro, não somente no verão.


Exemplo de uma rota marítima que passa pelo ártico. É uma rota mais segura e barata que a do canal de Suez e com o desgelo ela pode ser utilizada o ano inteiro, não só no verão quando as temperaturas são naturalmente mais altas.



Os países árticos já demonstram grande interesse nesses novos trajetos, já estão redesenhando fronteiras, realizando exercícios militares, enviando pesquisadores para a região, tudo para garantir um pedaço desse oceano. Essas preocupações são uma ótima ilustração de um princípio fundamental da geopolítica: o controle das rotas e sistemas de circulação (nesse caso o marítimo) como um constituinte da hegemonia nacional. Esse domínio territorial se dá a partir do controle de técnicas e tecnologias.


O Ártico também é rico em gás natural, petróleo e metais preciosos - ferro e ouro - e empresas de energia, como a Exxonmobil, Shell e Rosneft já começaram a explorar os recursos da região que vem se mostrando bastante lucrativos. Porém, é preciso ter um cuidado especial quando se realiza atividades por lá. Além do frio extremo e irregularidade da luz solar que podem ser danosas a infraestrutura das empresas e saúde de seus funcionários, o impacto no ecossistema local também deve ser levado em conta, visto que de acordo com o sociólogo argentino Átilo Boron, “Em tempos como os atuais, nos quais a devastação capitalista do meio ambiente chegou a níveis desconhecidos na história, uma reflexão sistemática sobre a geopolítica do imperialismo é mais urgente e necessária do que nunca.”


Uma área de inquietação são os danos que podem ser causados aos navios, especialmente em águas geladas. O gelo marinho é um agente potente para causar danos ao casco ou à hélice de um navio, o que pode causar um vazamento de substâncias poluentes, como o óleo. Além disso, a poluição atmosférica emitida nessas operações pode causar danos severos a fauna do local, devido a intensa inversão térmica nas regiões de frio extremo. Porém essas preocupações ambientais não vão frear o interesse de empresas no Ártico.


Fonte : Parceiros Guggenheim Elaborado por Bloomberg Link: https://www.bloomberg.com/graphics/2017-arctic/the-economic-arctic/



Como bem colocou o jornalista americano Eric Roston, em uma reportagem para o site da Bloomberg "A história do Ártico começa com a temperatura, mas é muito mais - esta é uma história sobre petróleo e economia, sobre humanidade e ciência, sobre política e fronteiras (...)"


Quais são os países que estão no ártico e como eles marcam sua presença na região?


Os países árticos.


Os países que possuem fronteiras com o ártico são: Canadá, Finlândia, Dinamarca (Groenlândia), Islândia, Noruega, Rússia, Suécia e EUA (Alasca). Eles compõem o Conselho Ártico, um fórum intergovernamental de alto nível que trata de questões enfrentadas por esses governos. Esse conselho também possui associações indígenas como membros permanentes e membros observadores como a China e o Japão.


Uma das questões mais delicadas que os países desta organização tem que lidar é a questão das fronteiras marítimas no oceano. Todo estado tem direito a uma ZEE - Zona Econômica Exclusiva - de seu litoral, até 200 milhas náuticas. Porém se o governo de um país conseguir provar que a sua plataforma continental - parte do continente que está submersa - é mais extensa, sua ZEE pode se expandir. Entre os países árticos ainda não há um consenso de onde a plataforma continental de um país acaba e outra começa, e isso faz com que as reivindicações de alguns estados se sobreponham. Ademais, como a fronteira é uma estratégia para o estabelecimento do poder institucionalizado do estado isso é uma questão de suma importância.


As pesquisas feitas sobre essas plataformas são realizadas por cientistas, uma vez que é comum que geógrafos, cientistas políticos e economistas sejam chamados a aplicar seus conhecimentos e garantir vantagens ao estado que os acolhe nessa tarefa.


Reivindicações de território no ártico.

Fonte: Desafio Viagem do Conhecimento. Editora Abril. 2009. Adaptado.



Essa confusão teve início em agosto de 2007 - um ano atipicamente quente - quando um par de submersíveis russos caiu 14.000 pés no fundo do oceano Ártico e plantou uma bandeira russa feita de titânio no Polo Norte, com o objetivo de declarar todo oceano ártico como território russo e renomeá-lo "oceano russo". Isto foi um movimento estratégico, feito com o drama em mente e desde então a Rússia tem sido a nação que mais expressa seu interesse no ártico.

A Rússia é o estado com o maior número de reivindicações de território no extremo norte, além de ter formado um exército ártico, criar várias bases militares na região e investir em equipamentos especializados, como navios quebra-gelo. O presidente Putin chegou a dizer : "Campos offshore, especialmente no ártico, são, sem nenhum exagero, nossa reserva energética para o século XXI”. Os exercícios da força ártica são a maior desde da guerra fria. Além disso, Putin declarou o ártico como esfera de influência russa na sua doutrina oficial de política externa. Os russos, de acordo com Tim Marshall, tem “planos para o futuro, infraestrutura do passado e vantagem da localização." O interesse deles é justificado pela a grande quantidade de russos que vivem no ártico e pela histórica busca de bases enérgicas fora de sua terra firme.


Outra nação protagonista na área é o Reino da Noruega. O país declarou o extremo norte como uma prioridade para sua política externa e mudou suas operações militares do sul do país para o norte. E em território norueguês a OTAN - Organização do Tratado do Atlântico Norte, uma aliança militar intergovernamental entre 30 países europeus e norte-americanos - conduziu seu maior exercício de treinamento desde o final da Guerra Fria.

Além da Rússia e Noruega, o Canadá tem reforçado sua capacidade militar em clima frio e a Dinamarca criou uma força armada ártica em resposta a Moscou. Operações militares são uma maneira comum de marcar presença tanto que a Islândia, que não possui forças militares próprias, teme que a falta de operações armadas pelo país no local possa ser confundida por um desinteresse do governo na região.


Apesar de ser um país ártico, os Estado Unidos tem tido uma postura tímida neste oceano. Eles tem apenas 1 quebra-gelo enquanto a Rússia tem mais de 30, eles também não reivindicaram a sua ZEE e não investiram em uma força especializada. Porém eles já perceberam que o ártico possui um grande potencial estratégico, Pompeo disse que as vias marítimas poderiam se tornar canais do Suez e do Panamá do século 21. E também já mostraram interesse no petróleo e no mar de Bering pelo seu potencial pesqueiro.



A China, membro observador do conselho ártico, se declarou um “estado próximo ao Ártico”, articulando seu desejo por um assento à mesa na tomada de decisão polar. Apesar de suas investidas no ártico serem um pouco tímidas para os padrões chineses em 2018 o governo chinês publicou um Livro Branco delineando seus planos para o Ártico e sua intenção de desempenhar um papel mais importante na região. O governo japonês também já financiou pesquisas científicas neste oceano.

Também é importante ressaltar a importância dos grupos indígenas locais. Em 1977 houve a criação de um movimento Pan-esquimó, a Conferência Circumpolar Inuit (ICC). Proposto pela primeira vez por um nativo do Alasca, Eben Hopson, este grupo forneceu um fórum para discutir questões de interesse comum para os inuítes dos quatro países árticos em que vivem - Rússia, Canadá, Estados Unidos e Groenlândia. Reconhecido pelas Nações Unidas como uma organização não governamental, ele mostra todos os sinais de desempenhar um papel significativo nos assuntos do Ártico. As comunidades do Ártico são as que enfrentam em primeira mão as mudanças climáticas, e os cientistas sabem que as causas não são locais. O aquecimento é global e os residentes do extremo norte estão sentindo apenas a primeira onda de impactos. A política no Ártico muitas vezes também não é local.

E ainda existem grupos que defendem que “o ártico é um patrimônio comum da humanidade” assim como a Antártida. Esses grupos não marcam presença no conselho ártico. Porém há muito tempo existe um senso de comunidade entre os exploradores do Ártico de muitas nações, levando frequentemente à colaborações informais. Nos últimos anos, isso se tornou mais formalizado, e programas conjuntos de investigação foram elaborados, particularmente, nas áreas de geofísica e biologia. Esses programas proliferaram e variam muito em tamanho e escopo. Porém ainda há dúvidas se esses grupos vão ter uma presença influente no Ártico. Mas esse espírito de cooperatividade pode ser útil para os estados também. A geografia do Ártico apresenta diversas dificuldades, este oceano é escuro e mortal e os países sabem que para ter sucesso na região eles precisam cooperar, especialmente em questões como de recursos pesqueiros; contrabando; terrorismo; busca e salvamento e desastres ambientais.

Podemos concluir com uma citação de Tim Marshall “Todas as questões de soberania emanam dos mesmos desejos e temores – o desejo de salvaguardar rotas para transporte militar e comercial, o desejo de possuir as riquezas naturais da região e o temor de que outros possam ganhar onde você perde. Até recentemente as riquezas eram teóricas, mas o derretimento do gelo tornou o teórico provável, e em alguns casos seguro".

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